Professor Bittencourt cobra preservação da memória de Gumersindo Bessa

por Acácia Mérici, Assessoria de Imprensa do parlamentar — publicado 28/03/2017 13h00, última modificação 17/11/2017 15h41
Professor Bittencourt cobra preservação da memória de Gumersindo Bessa

César de Oliveira

Na tribuna da Câmara Municipal de Aracaju nesta terça-feira, 28, o vereador Professor Bittencourt (PCdoB) chamou a atenção dos parlamentares sobre o texto “Gumersindo Bessa, Memória e Desrespeito’, de autoria da professora da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Terezinha Oliva, publicado no jornal Correio de Sergipe, no último domingo, 26.

“Terezinha Oliva foi minha professora e é um dos grandes expoentes acadêmicos da história de Sergipe. Ela, sem dúvida, demonstrou toda uma preocupação, que é nossa, através da sua sensibilidade com o nosso patrimônio. É um texto que precisa ser compartilhado para a total reflexão da sociedade”, afirmou Professor Bittencourt. 

Ainda de acordo com o parlamentar, o conteúdo é um alerta. “Já conversei com Mendonça Prado, presidente da Empresa Municipal de Serviços Urbanos (Emsurb), responsável pela administração dos cemitérios de Aracaju. Insisto que a tarefa da preservação da memória, da nossa sergipanidade cabe a muitos aracajuanos mas, em especial, a todos da Câmara Municipal”, declarou Professor Bittencourt.

O vereador parabenizou, ainda, o ex-senador e acadêmico Francisco Rollemberg que conseguiu que os restos mortais de Gumersindo Bessa e o busto de identificação do túmulo fossem entregues à Academia Sergipana de Letras. A partir de agora, o busto estará permanente ao lado do de Tobias Barreto. Já os restos mortais estarão na praça Central do município de Estância.

“Francisco Rollemberg deu grande importância para a preservação da nossa história, fortalecendo a memória de Gumersindo Bessa. Merece nossos aplausos e o nosso profundo respeito”, ressaltou Professor Bittencourt.

Leia o texto na íntegra:

Gumersindo Bessa, Memória e Desrespeito (professora Terezinha Oliva)

Depois de Tobias Barreto, Gumersindo Bessa é o maior expoente das letras jurídicas em Sergipe; o seu nome identifica ruas, escolas e prédios públicos em Sergipe, no Rio de Janeiro e no Estado do Acre. O Bacharel pela Faculdade de Direito do Recife, nascido na cidade de Estância em 02 de janeiro de 1859 e falecido em Aracaju, em 24 de agosto de 1913, foi advogado, promotor público, juiz, desembargador, jornalista e político. Em todas as funções, portou-se com rigidez de princípios e dignidade e por isso, ninguém lhe nega elogios e reconhecimento. Sergipanos e acreanos cultuam o seu nome. A cidade de Estância lhe dedicou uma estátua na sua rua principal; a Academia Sergipana de Letras fez dele um dos seus patronos e bem assim o fez a recente Academia Sergipana de Letras Jurídicas.


Gumersindo de Araújo Bessa se apresentou espontaneamente como defensor dos acreanos, publicando no ano de 1906, um “Memorial em Prol dos Acreanos Ameaçados de Confisco pelo Estado do Amazonas na Ação de Reivindicação do Território do Acre” em 20 páginas, a que o advogado constituído pelo Estado do Amazonas, Rui Barbosa, deu atenção e resposta. Inaugurou-se assim um debate de gigantes, afinal vencido por Gumersindo Bessa, que, tornando-se advogado do Acre, não tratou apenas da disputa territorial, mas do direito dos acreanos a decidirem o seu próprio destino.

No mesmo ano de 1906 Bessa foi o jurista que se pronunciou sobre a legalidade domovimento liderado por Fausto Cardoso que, em Sergipe, intentou substituir o governo oligárquico e o mando do Senador Olímpio Campos. Fiel ao amigo que perderia, no desfecho da revolta política, custeou o seu funeral em meio ao doloroso momento que se seguiu ao assassinato do tribuno e discursou, exaltando-o, em 1912, quando em decorrência da iniciativa popular, inaugurou-se a primeira estátua de Aracaju, transformando Fausto Cardoso em herói da cidade.

Pois bem: nada disso impediu que a memória do próprio Gumersindo Bessa tivesse sido desrespeitada da maneira mais contundente, atingindo o seu túmulo e os restos mortais. Há alguns dias, o médico e acadêmico Francisco Guimarães Rollemberg, ex-senador da República, deparou-se com o túmulo do jurista, no Cemitério Santa Isabel, servindo de maternidade de gatos e de depósito de lixo. À situação de abandono, juntou-se a ação de vândalos, resultando no que foi encontrado pelo acadêmico: lápide quebrada, destruição dos anjos que adornavam a sepultura e ossos desaparecidos em sua maior parte, incluindo o crânio.

Este quadro macabro mostra como não cuidamos da nossa memória. Há figuras que são representativas da inteligência sergipana. As marcas da sua memória, excedendo em importância, não podem ser confiadas apenas aos cuidados ou à incúria das suas famílias. Já possuímos estudos sobre os testemunhos existentes nos cemitérios – particularmente no Santa Isabel – que podem ser a base para um levantamento da situação desses túmulos e para um trabalho de conservação e cuidado, significativo do respeito que devemos ter a quem contribuiu para a construção da sergipanidade. Em todos os lugares, os cemitérios históricos são objeto de visitação até mesmo turística, por guardarem testemunhos importantes da memória. Estado, Município e organizações da sociedade civil podem e devem tomar iniciativas neste sentido, para que não tenhamos que registrar atestados de incivilidade e de barbárie.

Felizmente o acadêmico Francisco Rollemberg conseguiu do Cemitério Santa Isabel, em 10 do corrente, a entrega dos restos mortais de Gumersindo Bessa e do busto que identificava o túmulo. Entregues à Academia Sergipana de Letras, agora o busto ficará permanentemente na sede da Academia, ao lado do de Tobias Barreto, enquanto os restos mortais serão inumados no monumento ao jurista existente na Praça Central da Rua Capitão Salomão na cidade de Estância. Esta necessária providência respeita a memória do grande jurista e político, mas Aracaju perde, pelo descaso, mais um testemunho do seu passado.