Professor da UFS apresenta na Tribuna Livre projeto de prevenção às doenças deformantes da coluna vertebral

por Isabel Chaves - Agência CMA — publicado 04/11/2025 12h32, última modificação 04/11/2025 12h32
Professor da UFS apresenta na Tribuna Livre projeto de prevenção às doenças deformantes da coluna vertebral

Foto: Luanna Pinheiro

A Câmara Municipal de Aracaju recebeu, nesta terça-feira, 4, o professor doutor Miburge Bolívar Góis Júnior, do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal de Sergipe (UFS), para apresentar os trabalhos desenvolvidos pelo “Projeto Freando a Curva”, voltado à prevenção e ao tratamento das doenças deformantes da coluna vertebral, especialmente em crianças e adolescentes.  

Durante a fala na Tribuna Livre, o professor destacou que o projeto foi implementado em 2015, no Laboratório de Controle Motor e Equilíbrio Postural da UFS, e está vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Aplicadas à Saúde. Ao longo de dez anos, a iniciativa tem atuado nas vertentes de ensino, pesquisa e extensão, envolvendo disciplinas nas áreas de ortopedia e coluna vertebral, além de projetos contínuos de extensão com bolsas de monitoria e participação de voluntários.  

O professor Miburge ressaltou que o ambulatório especializado em doenças da coluna vertebral já atendeu e orientou mais de 200 crianças em todo o estado e, atualmente, acompanha cerca de 20 pacientes com escoliose, todas as segundas-feiras, no Centro de Especialidade Nível 4 (CER-IV), em parceria com a Secretaria de Estado da Saúde. “O ambulatório promove palestras educativas, prescreve coletes e órteses quando necessário e realiza encaminhamentos cirúrgicos ao Hospital Cirurgia”, explicou.  

Um dos grandes reconhecimentos ao trabalho foi o prêmio concedido recentemente pelo Ministério da Saúde, que classificou o Laboratório de Controle Motor e Equilíbrio Postural como Melhor Ambulatório de Tratamento de Escoliose do Brasil, pela qualidade metodológica das ações de ensino, pesquisa e extensão desenvolvidas por meio do Projeto Freando a Curva.  

O docente também anunciou uma nova fase da iniciativa, com a construção de uma rede colaborativa entre a UFS, o Ministério Público de Sergipe, a Secretaria de Estado da Saúde, a Secretaria de Estado da Educação, secretarias municipais, a Federação dos Estabelecimentos Particulares de Ensino, a Sociedade Sergipana de Pediatria e o Hospital Cirurgia. “Mais importante que os números é o comprometimento de todos os atores no cuidado com as crianças. Nosso trabalho se ampara na legislação e visa garantir o direito à saúde e à prevenção, conforme prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente”, afirmou.  

Segundo dados preliminares levantados por uma aluna da pós-graduação, existem 7.326 crianças subnotificadas com problemas graves de coluna em Sergipe, número que revela a urgência de ampliar as ações preventivas. “Precisamos fortalecer a parceria com as secretarias de saúde e educação, com os conselhos profissionais e com as escolas, para que essas doenças sejam identificadas e tratadas precocemente”, alertou o professor.  

Ele destacou ainda que, a partir de 2026, será distribuída uma cartilha educativa para todas as escolas públicas e privadas do estado, fruto de um acordo com o Ministério Público de Sergipe. O material orientará alunos e professores sobre postura correta, uso adequado do celular, maneiras seguras de deitar e se sentar, além de medidas para prevenir deformidades na coluna.  

Durante o uso da tribuna, Miburge também chamou atenção para o impacto financeiro que as doenças da coluna geram ao sistema público de saúde. “Uma cirurgia de coluna pode custar entre 80 e 120 mil reais, valor que poderia ser evitado com ações educativas e preventivas”, destacou. 

O que disseram os vereadores  

O presidente da Casa Legislativa, vereador Ricardo Vasconcelos (PSD), elogiou o projeto e o papel social da Universidade Federal de Sergipe. “A UFS tem dado uma grande contribuição para além da formação acadêmica, atuando na identificação das deficiências do SUS e na assistência à população. Projetos como esse merecem nosso apoio e reconhecimento”, afirmou.  

A vereadora professora Sonia Meire (PSOL) ressaltou a importância de incluir o tema no Plano Municipal da Primeira Infância. “Eu mesma fui vítima de escoliose na infância e sei as consequências disso. Esses dados são alarmantes e essa questão precisa estar prevista no PPA e no Plano Municipal da Primeira Infância, pois envolve educação e políticas públicas integradas”, destacou.  

O vereador pastor Diego (União Brasil) enfatizou o caráter preventivo da iniciativa. “Se identificarmos e tratarmos essas doenças na primeira infância, evitamos sequelas e ampliamos as chances de desenvolvimento pleno das crianças. Vamos buscar diálogo com a secretária municipal de Saúde para discutir como fortalecer essa identificação precoce”, pontuou.  

Já o vereador Lúcio Flávio (PL) sugeriu a realização de uma Audiência Pública sobre o tema. “É a primeira vez que vejo essa discussão sob a ótica preventiva, e isso é fundamental. Trata-se de um tema multissetorial, que envolve saúde, educação e desenvolvimento econômico. Coloco meu mandato à disposição para colaborar”, declarou. 

Encerramento  

Ao encerrar sua participação, o professor Miburge agradeceu o apoio dos parlamentares e reforçou a relevância social do tema. Ele revelou que, entre as crianças atendidas no ambulatório, oito sofreram casos de bullying nas escolas em razão do uso de coletes ortopédicos ou de alterações posturais. “Já temos uma agenda com 26 escolas públicas e 32 particulares para levar palestras e conscientizar alunos, professores e famílias. É um problema que envolve toda a área da saúde e precisa ser enfrentado com informação, empatia e compromisso coletivo”, concluiu.