“Destruir os conceitos de violência do machismo é nossa principal função”, diz a vereadora Sonia Meire
Nesta quinta-feira (07), durante o Pequeno Expediente na Câmara Municipal de Aracaju (CMA), a vereadora Sonia Meire (PSOL) utilizou a tribuna para destacar os 19 anos da Lei nº 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha, e reforçar o combate à violência contra as mulheres. O mês de agosto, denominado Agosto Lilás, tem como objetivo incentivar ações de mobilização, prevenção e fortalecimento da rede de proteção às mulheres.
“Hoje completa 19 anos da criação da Lei Maria da Penha. Essa é uma lei que o país precisou criar como mecanismo de proteção às mulheres. E é neste mês, chamado Agosto Lilás, que se faz a maior divulgação da nossa luta contra o feminicídio e contra todas as formas de violência. Mas nós, mulheres, precisamos não só denunciar, combater e defender políticas públicas — também precisamos fazer uma reflexão profunda sobre o que leva à violência contra as mulheres. Nós somos a maioria da população, inclusive aqui em nossa cidade e em nosso estado, e este parlamento, por exemplo, é praticamente só de homens. São poucas as mulheres representadas. E isso tem a ver com a forma como a sociedade brasileira forma homens e mulheres, meninos e meninas. Destruir os conceitos de violência do machismo é nossa principal função”, afirmou a vereadora.
Sonia Meire destacou também que, quando existe a discussão da educação nas famílias, nas escolas, para que se formem pessoas que sejam orientadas a colaborar, a falar de afeto, solidariedade, sobre arte, sobre a tristeza e o amor, é trabalhada outra lógica de formação. A violência contra a mulher é fabricada pela sociedade desde que os meninos começam a se entender como meninos. Mais de 20 milhões de mulheres sofreram algum tipo de agressão em 2024. A violência física atinge quase 2 em cada 10 mulheres, e mais de um terço das mulheres brasileiras sofreram algum tipo de violência no ano passado.
“Criamos meninos que não podem demonstrar sentimentos humanos, do tipo: homem não chora — quem aqui nunca ouviu isso? Homem não pode demonstrar fraqueza. ‘Chuta feito homem’, quando está jogando bola. ‘Não leve desaforo para casa’. Quem nunca escutou? ‘Se chegar aqui apanhado, apanha de novo’. É fabricado, com o tempo, os machistas, os homens no futuro que vão violentar as mulheres. A violência é internalizada pelos meninos, e eles crescem e se tornam homens que se sentem autorizados a praticar as violências. Inclusive, se ele demonstrar fraqueza, ele vai ser igualado à mulher, porque a sociedade produz homens dizendo que as mulheres são fracas. A violência é parte fundante da masculinidade”, completou Sonia Meire.
O levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, feito pelo Instituto Datafolha, destacou também que, desde 2017, quando é realizada a pesquisa, os números de 2024 trazem o maior volume de casos de violência. São 21,4 milhões de mulheres com 16 anos ou mais que sofreram algum tipo de violência. A maioria dos atos foram insultos, xingamentos ou humilhações, e grande parte dessas vítimas também disseram que foram ameaçadas de apanhar, empurradas ou chutadas. 18,9% da população feminina brasileira, ou seja, 8,9 milhões de mulheres, foram agredidas fisicamente. Além de tudo isso, a quantidade de mulheres que tiveram fotos e vídeos íntimos divulgados na internet, sem seu conhecimento, soma 1,5 milhão. E 5,3 milhões de mulheres afirmaram que sofreram abuso sexual ou foram forçadas a ter relações contra a sua vontade.
“Nós já estamos cansadas de denunciar os números. Nós precisamos agir na formação, tanto dentro das nossas famílias quanto nas escolas. Quando nós reivindicamos a desconstrução dessa deformação que forma crianças e adolescentes, futuros homens para serem violentos, que se sentem autorizados, por exemplo, a dar 61 socos em uma mulher. A internalização da violência se torna uma arma contra as mulheres, e quando falamos sobre isso, somos atacadas com o discurso de ‘ideologia de gênero’. Ideologia de gênero é o massacre que sofremos todos os dias. São crianças, meninas e mulheres que sofrem estupros todos os dias; são companheiras que, mesmo dividindo o mesmo teto, são estupradas dentro de casa. Estou aberta a discutir vários projetos que já estão protocolados para combater a violência de gênero, que não é ideologia de gênero. Isso não existe. O que existe é uma deformação da sociedade, e nós precisamos combater isto”, finalizou a parlamentar.